Aos meus professores: a humildade do reconhecimento e da gratidão
Diz-nos a
experiência que em momentos de fragilidade o ser humano torna-se mais vulnerável,
frio e revoltado, menos agradecido e mais distante. É nestes momentos que sinto
vestir a pele ao contrário. Ajoelho e dou graças por todos os bens e graças
recebidas, e pelas pessoas “culpadas” pelo ser que hoje sou.

Quanto eu
gostaria de generalizar o que penso e sinto firmando que nunca estamos nem
estaremos demasiado gratos aos nossos pais nem aos nossos professores. Eles
acompanham-nos pela vida fora, mesmo quando estamos sozinhos.
Ontem
estive a atualizar o meu Curriculum Vitae
(CV) por questões profissionais e académicas e refleti sobre estas pequenas
coisas a que chamo “pequenos nadas”, a que ninguém deve dar importância, mas que
para mim têm um valor inestimável. O nome dos pais põe-se sempre no CV, porque
de certa forma fazem parte da nossa identidade. O nome dos professores devia
também fazer parte de todos os "curricula", porque a nossa formação
se deve em grande parte a eles. Sei que em alguns países (como a Alemanha) é ou
pelo menos era habitual colocar-se, numa página final das teses de doutoramento,
o nome de todos os professores de licenciatura e de pós-graduação. Apesar do
esmerado esforço de reconhecimento, admito que é injusto para todos quantos os
antecederam. Quando falo em reconhecimento e gratidão, passam-me muito nomes
pela memória, mas a figura que surge sempre em primeiríssimo lugar é a minha
estimada professora do ensino primário que me acompanhou quatro difíceis anos
(antes e na transição do abril de 74).
Falar do
papel dos pais seria talvez redundante, toda a gente os tem e toda a gente sabe
o que eles significam para eles. Talvez não seja tão redundante falar dos
professores, antes devia ser privilégio de toda a humanidade, mas sabemos que há
infelizmente no mundo quem não os tenha ou que não tenha os professores que
precise; e há, também infelizmente, quem os tenha e não reconheça
suficientemente o valor que eles tiveram, têm ou podem vir a ter nas suas
vidas. As crianças e jovens (todos nós, afinal, porque já o fomos) têm alguma
dificuldade em fazer imediata justiça aos professores com quem convivem
diariamente. Mas à medida que crescem (que crescemos), vão descobrindo a
dimensão da herança que lhes devem e construindo dentro de si, ainda que
escondida, uma gratidão profunda.
Nem todos
os professores que se cruzaram nas nossas vidas foram os melhores professores,
é verdade, mas todos eles deixaram marcas indeléveis, ousaria até dizer que
eles são co-construtores daquilo que hoje somos. Temos, de facto, um lugar
especial dentro de nós onde guardamos com saudade alguns dos nossos
professores. Para as pessoas que aí colocamos a nossa gratidão é maior. A
escolha dos nossos melhores professores não é apenas racional. Escolhemos afetivamente
alguns dos nossos mestres, porque sentimos que eles, além de educação e cultura,
nos transmitiram um afeto enorme. Gostamos deles por várias razões, mas também
porque eles gostaram de nós. E como o gostar é uma característica humana, muito
humana, os melhores professores são imensa e intensamente humanos.
Não ousaria
nomeá-los, pois sei que seria injusta, mas o meu pensamento está em vós e a
minha gratidão é imensa. Todas as palavras ficariam aquém do bem que me têm
feito. A alguns tenho ainda a agradecer a aliança, a confiança e a amizade, por
isso, as palavras serão sempre poucas. O meu bem-haja, professor(a)!
22.05.2016
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