"Da necessidade de receber"




Tenho conhecido muitas pessoas que se preocupam com os outros, que são extremamente generosas na hora de dar, e que encontram um profundo prazer quando alguém lhes pede um conselho ou apoio.

Até aí tudo bem – é ótimo poder fazer o bem ao nosso próximo.

Entretanto, tenho conhecido muito poucas pessoas que são capazes de receber algo – mesmo quando lhes é dado com amor e generosidade.

Parece que o ato de receber faz com que se sintam numa posição inferior, como se depender de alguém fosse algo indigno. Pensam: “se alguém está nos dando algo, é porque somos incompetentes para consegui-lo com o próprio esforço”. Ou então: “A pessoa que me dá agora, um dia irá cobrar com juros”. Ou ainda, o que é pior: “Eu não mereço o bem que me querem fazer”.

Por que agimos assim?

Porque nos custa entender que este universo é feito de dois movimentos. O primeiro é a expansão, rigor, disciplina, conquista; o segundo é a concentração, meditação, entrega.

Basta olhar o nosso coração (e não é a toa que o coração sempre foi identificado como o símbolo da vida) para compreender que são estas duas energias que o fazem bater, contrair-se e expandir-se no mesmo ritmo.

As muitas estrelas do céu estão emitindo luz, mas ao mesmo tempo estão sugando tudo a sua volta, naquilo que é conhecido pelos físicos como força de gravidade.

Assim, os atos de dar e de receber, embora sejam aparentemente opostos, fazem parte do mesmo e contínuo movimento.

Não é melhor quem dá com generosidade, nem é pior quem recebe com alegria. O amor é, justamente, fruto destas duas coisas.

In Paulo Coelho

Comentários

Carlos Pires disse…
Eu não sou religioso. Desconfio que, mesmo que fosse religioso (suponhamos que católico,) não gostaria de imensas coisas na religião (católica): os santos, as beatificações a martelo, a criminosa recusa dos anticonceptivos, as perseguições religiosas, a disciplina de Educação Moral e Religiosa (Católica), etc.
Mas, no mundo complicado em que vivemos, isso não me impediria de praticar essa religião. O que se relaciona facilmente com a minha prática actual de ateu: tenho - por exemplo - muito respeito pessoal e intelectual por pessoas que consideram imoral usar anticonceptivos,apesar de discordar completamente delas.

Mas, o que escapa completamente a todo e qualquer esforço de racionalização, é o facto de alguém se dar ao meritório trabalho de manter "aberto" um espaço como este blogue e depois citar alguém tão medíocre, superficial, supersticioso, charlatão, estúpido e irracional como Paulo Coelho.

Eu não não sou religioso, mas se fosse tentaria aproximar a religião do pensamento racional (filosofia, ciência...).

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