Estórias de (en)cantar

Mozart, o menino mágico Havia um cravo no meio do quarto e uma janela a dar para a rua. O cravo não era uma flor e sim um instrumento polido, elegante, bonito, capaz de fazer música, de encher os dias com o som suave das suas teclas brancas e negras, com a alegria dos seus acordes, das suas harmonias leves e limpas como a voz do vento. O menino levantou-se do chão, sentou-se no banco almofadado e pousou as mãos pequeninas sobre as teclas. Que música ia nascer dos seus dedos saltitantes como pássaros contentes com a chegada da Primavera? Atrás do menino havia um vulto e atrás do vulto uma luz igual à que cobre as telas dos pintores. O menino gostava da luz e o seu sorriso de menino feliz era já uma espécie de música a enfeitar a vida da casa. “Amadeu”, — disse a voz atrás do menino —, “hoje tens ainda muito trabalho pela frente, dois minutos para estudar, uma longa lição para aprender.” O menino gostava que soubessem que, para ele, tocar era uma maneira de brincar e que o cravo, o pian...