Hora da Poesia e da Esperança

Dez réis de esperança
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
Comentários
Hoje andei à procura de qualquer coisa que também fosse dez réis de esperança para deixar no meu cantinho (porque ando com dificuldade na esperança), e dei-me conta de que não encontro nada que não sejam canções ou poemas de nomes que já só recordamos. Pensei sobretudo em canções (mas vale o mesmo para poemas) e perguntei-me: onde há hoje as nossas referências de antigamente? Um Armstrong com o "what a wonderful world", uma Joan Baez ou um John Lennon com o "Imagine", um Zé Afonso e tantos outros... Tal como na poesia, um António Gedeão...
Nós temos referências, mas são antigas. Onde estão idênticas referências para os jovens de hoje? (Ou talvez haja e o lapso seja meu)
Desculpe, Fátima, este comentário um tanto a despropósito, mas é que andei mesmo hoje à procura.
Um abraço
Gosto muito de António Gedeão... e, pegando num poema dele que gosto muito (Gota de Água) e transformando-o um pouquinho digo:
Gota de Luz
Eu, quando ilumino,
não brilho eu.
Brilha aquilo que nos homens
em todo o tempo este apagado.
As luzes são minhas
mas o brilho não é meu.
Boa semana amiga.
Beijinhos de Amor e Luz!
p.s.: Continuo à espera da tua definição de Luz. Se não tiveres foto, inspira-te no que carregas dentro de ti!
Beijinhos de Amor e Luz!