Hora da Poesia III

A finalizar o mês de Maio e mais uma homenagem no FEMININO.

As Palavras Interditas



Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
As Palavras Interditas, Eugénio de Andrade

Comentários

ARTEROSANE disse…
Amei sua visita!!
Aparece lá sempre!!!
Adorei seu espaço, as poesias, tudo...
Beijo
Anónimo disse…
Uma óptima lembrança, Fátima, espero que não se importe pois levei para o Ontologias.
Bjinho grande, este blog continua o máximo!RS.
Fátima André disse…
Rosa, um beijinho grande para si também. Claro que não me importo.
Resto de bom dia da criança :)
... e obrigada pelas palavras... :)

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