Uma tentativa de levar a bom porto o barco quase naufragado


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Breve análise crítica:

Um princípio ético da Investigação e da Avaliação em Educação é testar os instrumentos antes de os aplicar à população alvo… e nós estamos a criar instrumentos sem os testar… um erro muito grave! Aliás, pode acarretar danos irreparáveis. Mas não vou falar sobre isso, agora.

O que penso sobre o documento supra:

(Aspectos +)
Reconheço muito trabalho e mérito à equipa que concebeu o Instrumento de Registo da Avaliação do Desempenho Docente. Um documento muito completo.
(Aspectos -)
Sem testar os Instrumentos e numa primeira análise noto várias falhas: (1) muito extenso; (2) comportamentaliza demasiado; (3) há indicadores que dificilmente são mensuráveis (por exemplo, não sei como se mede empenho e participação em valores percentuais (%). Isto é um atentado a tudo o que se defende nas teorias mais recentes sobre avaliação em educação que tendem para uma avaliação qualitativa, formativa e formadora. Não abdicando da avaliação quantitativa, há que fazer o esforço do justo equilíbrio. Não é possível medir as relações com a comunidade em valores (%). O máximo que se pode fazer é definir uma escala de medida (ex. 1 – 4) que possa prever o perfil (relacional) de cada docente para cada situação a observar; em suma, (4) tenho muitas dúvidas quanto à aplicabilidade, fiabilidade e até validade destes Instrumentos.
Na interligação com o processo em que está mergulhado:
Do que atrás ficou dito (pela análise do documento), fez-me lembrar o behaviorismo na sua versão mais tradicional. Mas até os próprios behavioristas perceberam que as suas estratégias de observação das aulas eram reducionistas e que o essencial das aulas não está nos aspectos atomizados. E nós persistimos no erro. Parece teimosia. Não há grelha que aguente tantos aspectos, operacionalizados ao pormenor. Nem observador que não se disperse em tantos aspectos... A qualidade da avaliação não está na quantidade de itens a medir.
Eu acho que temos de ser o mais objectivos possível. Mas há uma regra de ouro que se ensina em Investigação: se queremos medir tudo, temos de abdicar de uma certa objectividade. Quanto mais aspectos estão em jogo menos objectivamente os conseguimos medir. Se queremos medir muito objectivamente, entre outras coisas, temos de seleccionar meia dúzia de aspectos que achamos essenciais.

O que se pretende com estes instrumentos é alguma coisa que me parece que os especialistas do ME não sabem fazer: observar tudo com todo o detalhe. Porque se o soubessem fazer não tinham criado aquelas pérolas de Fichas de Avaliação de Desempenho (oficiais). Sim, aquelas que têm parâmetros tão subjectivos quanto paradoxais e não sei com contas variáveis a influir em cada indicador. Impossíveis de medir segundo os critérios de objectividade, o que põe em risco outros critérios como o da equidade, da validade e fiabilidade dos resultados.

Como nós professores, só somos pessoas, não me parece que haja grande solução para esta trapalhada… por muito boa vontade dos professores e das escolas em dar o seu melhor. O processo está cheio de erros e nunca irá servir os propósitos para os quais foi implementado: (1) melhoria dos resultados dos alunos; (2) premiar a excelência, o mérito e a qualidade de desempenho dos professores...

Um processo do qual foram abolidas fases vitais como aquela que deveria de ter sido de trabalho preparatório à sua implementação. Ou seja, há um trabalho de conceptualização do processo de avaliação que não foi feito e não está feito. Não se começa um processo de avaliação a construir instrumentos, os instrumentos é o fim e não o princípio… Um processo que destrói e não constrói. Um processo que em nada contribui para o sucesso educativo dos alunos. Um processo que em nada contribui para o desenvolvimento profissional dos docentes.
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Nota: Não me parece nada de bom tom o que tem acontecido nos últimos dias na comunicação social, em que uns ditos pseudo-especialistas em educação vêm dizer que os professores não querem ser avaliados, temem a avaliação... Respeito a liberdade de expressão, mas nem todas as ideias que se dizem ou escrevem são boas. Por isso, desafio a que me apresentem textualmente as virtudes deste processo de avaliação para que eu possa refutar as ideias.

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