"O fantasma do recuo"

© Luís Veloso

«'Recuo' é uma palavra que, no dicionário dos políticos, parece significar vergonha, humilhação, fraqueza, descrédito.

Esta ideia está de tal forma assimilada - e potenciada pelos analistas - que já não ocorre aos decisores introduzir alterações em decisões anunciadas, nem mesmo naquelas situações em que se apresentam claramente desajustadas ou mesmo lesivas dos interesses que pretendiam salvaguardar, receosos que se considere um 'recuo'.

Este receio está a envenenar e a tornar inúteis quaisquer negociações sobre matérias que devem ser objecto de concertação entre as diferentes partes envolvidas.

Modificar propostas, tomando em consideração os contributos positivos para o seu aperfeiçoamento, não é sinal de fraqueza, mas de seriedade.

Um político determinado é o que tem objectivos claros de que não abdica e não deixa de o ser pelo facto de os alcançar por vias diferentes daquelas que traçou.

Este Governo está a ceder ao medo da palavra 'recuo'.

Está a faltar-lhe simultaneamente humildade e grandeza para a assumir em nome do interesse do país cujo progresso muito beneficiaria se se privilegiassem mais os objectivos do que os "soundbytes".»

Manuela Ferreira Leite, In Expresso, 10.3.2008
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Nota: Reconhecer que somos falíveis e reconhecer os nossos erros é uma virtude, não um mal e muito menos deve ser alvitrado como humilhação. Esta humildade de se sentir caminheiro e aprendiz a vida inteira e de reconhecer as fragilidades humanas, não deve ser nada que nos envergonhe. Pelo contrário, deve ser encarado como uma oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional. Vergonha é (re)conhecer o erro e persistir nele!

Comentários

Anónimo disse…
OLá, Fátima!
Coragem e firmeza. Obrigado pelos seus posts.
Se todos fossem como você...o mundo seria bem melhor.
Ramiro
Fátima André disse…
Obrigada, Ramiro. É um elogio que ainda não mereço, embora procure caminhar nesse sentido. Retribuo :)

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