Descuidar a memória é um erro
A propósito do meu texto Apologia da memória, encontrei um pequeno vídeo, uma reportagem da RTP que alerta para a necessidade de exercitar a memória e para os riscos de o não fazermos. Vale a pena ver e ouvir. Os exemplos dados reportam-se a coisas simples e vivências do quotidiado pouco significativas, no entanto, se fizermos uma transposição para uma escala maior de saberes e conhecimentos que deveríam ser objecto das nossas aprendizagens, o caso torna-se bem mais complexo. Os estudos de neuro-ciências dizem exactamente isto: Se não estimularmos devidamente certas aptidões das crianças, elas nunca recuperarão. A memória é uma delas.

Ver Vídeo RTP (2.2.2008) - "Memória é cada vez menos exercitada"

Ver Vídeo RTP (2.2.2008) - "Memória é cada vez menos exercitada"
“A maior parte das pessoas está a exercitar cada vez menos a memória. A culpa é de dispositivos electrónicos como as agendas de telemóvel, por exemplo, que fazem com que a maior parte das pessoas não fixe os números que usa todos os dias.”
Será só culpa dos dispositivos electrónicos???
Eu estou em crer que não. Do meu ponto de vista é uma questão de Educação. A culpa é mais dos sistemas de ensino e das políticas educativas que não clarificam o lugar da memória no processo de ensino/aprendizagem. Aliás, como já tive oportunidade de o dizer anteriormente, o valor da memória tem sido menosprezado nas orientações curriculares mais recentes por se identificar a memorização com um ensino técnico, uniforme e igual para todos… o que tem sido um erro. Perdeu-se o justo equilíbrio. Memorizar é uma técnica de estudo entre muitas outras, mas também ela necessária. A nossa memória é como o atleta, se não a mantivermos em forma, ela definha. É necessário exercitá-la. Não me venham dizer que basta adaptarmo-nos aos tempos modernos e que as tecnologias resolvem todos os problemas do ensino, porque não resolvem. Falo assim porque me considero uma pesssoa inovadora, adepta das TIC e faço uso delas no processo de ensino-aprendizagem... se lhe reconheço inúmeras vantagem, também conheço as desvantagens e alguns dos inúmeros perigos que espreitam.
Um sinal dos tempos.... ao qual é preciso estar atento!
Comentários
Bjs, até breve!
Beijos aí para o litoral alentejano :)
Beijos aí para o litoral alentejano :)
Num acto de intercâmbio, o Revisitar a Educação já consta do meu Dossier Educação.
Saudações
Ramiro
Todas estas formas de inteligência fazem parte do nosso código genético com zonas corticais específicas que, devido, à plasticidade do cérebro podem ser melhoradas até um certo ponto. Como diz um reputado estudioso das neurociências, Richard Thompson, “o cérebro humano consta aproximadamente de 12 biliões de neurónios e o número de interconexões entre eles é superior ao das partículas atómicas que constituem o universo inteiro”. Impressionante, não? Isto mais se complica quando temos em atenção o papel dos neurotransmissores nessas interconexões. Os neurotransmissores são substâncias químicas de uma importância capital: muitas doenças mentais ou de degenerescência cerebral estão dependentes de um equilíbrio perfeito da sua produção, como a serotonina, por exemplo.
O ensino moderno descurou, lamentavelmente, o papel importantíssimo da memória no desenvolvimento da aprendizagem das crianças, através da pouca (ou nenhuma) importância dada à tabuada e ao cálculo mental, por exemplo, substituído por simples maquinetes que fazem as contas por elas. A memória é como uma biblioteca a que se recorre ou uma fonte de dados computorizada para o raciocínio que se depende, como a boca para o pão, de associação de ideias.
A Cibernética, que para Platão significava apenas “a arte de conduzir um navio”, foi recuperada por Wiener (1948) para nomear “o antigo governo de uma máquina, com certa autonomia e capacidade de iniciativa e sua aplicação ao estudo do sistema nervoso”. Quase podemos dizer que a cibernética criou pernas para andar embora numa progressão que nos levará a caminhos que fogem à nossa compreensão actual.
Esta uma pequena achega à sua preciosa chamada de atenção para o importante papel da memória, e tão descurado actualmente, nas aprendizagens escolares das crianças por mais”inteligentes” que sejam.
E já que falei do pão para a boca,
estas apenas migalhas de um tema que pode ser que venha a ampliar num futuro post, quando o mar encarpelado da discussão sobre as reformas do sistema educativo amainar, para o bem dos alunos, dos professores e da educação portuguesa.
Muito obrigada pelo precioso contributo do seu post. Aliás, eu até gostaria de afixar este seu contributo na página principal. Se concordar e aceitar o desafio, proponho que este seja um post convidado. Se pretender melhorar ou acrescentar algum dado pode fazê-lo e enviar-me o texto para (com uma sugestão de título):
revisitaraeducacao@gmail.com