Só uma Tutela daltónica não vê o que é óbvio!


Por Ramiro Marques
Professor da ESE de Santarém
O novo estatuto dos professores não fez com que os professores "cábulas" e incompetentes passassem a trabalhar mais. O que aconteceu é que, por via do estatuto, os professores que já trabalhavam muito passaram a trabalhar muito mais. A consequência deste acto é óbvia: o volume de trabalho aumentou exponencialmente, não só em consequência das substituições das aulas, mas sobretudo por via do aumento da burocracia e da papelada. Resultado: os bons professores estão a deixar de o ser e os maus professores continuam a ser maus. Generalizou-se a injustiça nas escolas. A desmotivação alastrou. Os bons professores estão exaustos. Cada diploma que vem do ME traz novas exigências e novas responsabilidades. E cada novo diploma é mais complexo do que o anterior. As fichas de avaliação de desempenho, que foram colocadas na Internet às 23:30 de ontem sem que o Conselho Cientifico da Avaliação se pronunciasse sobre elas, são de uma complexidade atroz. Para que são necessários tantos parâmetros? Por outro lado, exigir uma avaliação de desempenho de dois em dois anos é ignorar totalmente o que se passa nas escolas. Vai pôr os professores a trabalharem para outros professores, vai aumentar os conflitos institucionais e levar à exaustão os coordenadores de departamento. E tudo isto para nada. Não se vê melhoria alguma no desempenho dos alunos. O que se vê são escolas com ambientes cada vez mais degradados, professores sem tempo para preparar aulas e docentes sem energia para as leccionar. Esta equipa ministerial destruiu a formação contínua dos professores, deu cabo do estatuto profissional de dois terços dos professores e está a contribuir, com as suas exigências descabidas, para que bons professores passem a ser maus professores. Pergunte-se aos professores se gostam da profissão! Há meia dúzia de anos, a resposta era só uma: sim! Agora, a resposta esmagadora é: não! Este Governo arranjou um bode expiatório para explicar o que há de errado na sociedade. Para o Governo, os professores são os culpados. Os ataques ferozes aos professores, conduzidos com dureza e impiedade durante os dois últimos anos, dão boa consciência aos pais. A culpa nunca é deles, não é da sociedade, não é dos alunos cábulas, não é das políticas erradas do ME. É apenas dos professores. Estes ataques ferozes do ME aos professores tornaram-nos mais vulneráveis aos insultos e exigências descabidas de pais e alunos. Como os professores têm a perfeita noção de que o objectivo das políticas deste Governo é fazer deles bodes expiatórios e enfraquecê-los, deixaram de acreditar e já nem sequer apresentam queixa quando são insultados e agredidos pelos alunos.

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