HISTÓRIA DOS BONECOS DE ESTREMOZ

Passatempo – Transmissão do Património Histórico-Cultural... (aqui)

Directamente desta bela cidade de Estremoz escrevo este post, com um cheirinho da História destes magníficos Bonecos de Estremoz... com a serenidade típica da terra e das gentes Alentejanas, e com alguma lentidão no funcinamento da internet móvel... estas modernices que dão sempre geito em qualquer recanto do mundo e que são muito úteis quando ainda tenho que terminar relatórios nos próximos dias e enviar para bem longe daqui...


Mais dois belos bonecos representando a Primavera

Em investigações recentes uma acta de vereação de 10/10/1770, deu uma nova luz sobre os bonecos de Estremoz e sobre os seus produtores. Contrariamente ao que era aceite pelos investigadores, a arte de fazer bonecos de Estremoz não era realizada pelos Oleiros da então vila, mas sim por mulheres, as quais eram mesmo chamadas de "boniqueiras". As bonequeiras de Estremoz não tinham o seu trabalho reconhecido enquanto ofício, como por exemplo o tinham os oleiros de barro fino e de barro grosso ("as Supplicantes que exerci/tão hum emprego que nem hé officio / exzaminado nem os oleiros de / huã e outra Clace o praticão"), chamando os vereadores de Estremoz ao trabalho que produziam "Corizidade de barro".

Este não reconhecimento enquanto ofício advêm principalmente da condição feminina, já que era uma vergonha para o chefe de família ser, ele ou os filhos, sustentados pela mulher. Mas advêm também de o trabalho de uma mulher ser considerado inferior ao de um homem. São destas mulheres "boniqueiras" as peças do século XVIII e XIX que temos no nosso Museu Municipal, as quais atestam a sua enorme religiosidade, o seu apego ao Stº António (Santo casamenteiro), ao São João e Nª Srª da Conceição, o seu trabalho doméstico - o lavar o menino, o fiar, entre outros - e o como ocupavam as horas de lazer - o regar as flores, o servir o chá, o olhar-se ao espelho, o ler a carta. Os períodos festivos, os quais eram normalmente abrilhantadas pelas mulheres com uma toalha, ou serviço de loiça especial, também foram abrangidos pelas bonequeiras, que fizeram bonecos especiais para estas ocasiões, como as Primaveras, os Reis Negros, a Primavera do Toucado, os Músicos (estes eram Paliteiros de mesa), etc, tudo bonecos de barro repletos de cor, ironia e ao mesmo tempo significado.

Para o natal tinham presépios, resultado de uma interpretação sua dos presépios da Escola de Mafra. Mais notícias dos bonecos temo-las somente em texto de 1916 da revista "Terra Portuguesa", da autoria de Sebastião Pessanha, que refere uma oficina em decadência, de Gertrudes Rosa Marques, sita na Rua do Outeiro. Esta bonequeira já só fazia assobios, peças muito solicitadas em feiras da região pelas crianças. Dada a pouca rentabilidade, os bonecos de Estremoz no primeiro quartel do séc. XX foram quase que esquecidos após a morte desta barrista. No entanto, com a fundação da Escola de Artes e Ofícios em 1924, os bonecos reaparecem graças à acção do Director da Escola, Sá Lemos (década de 30), que descobrindo uma senhora de avançada idade (Ana das Peles) que ainda se lembrava como se faziam estes bonecos, ajudou a salvar a tradição. Falecendo esta, é o oleiro Mariano da Conceição que "pega" na arte.

Após o falecimento de Mestre Mariano, é sua irmã Sabina que continua este artesanato. Sua esposa, Liberdade, só anos depois é que decide dar continuidade ao seu legado.

Outros bonequeiros apareceram posteriormente, como por exemplo, António Sousa (que tem a continuar o seu trabalho sua esposa Quirina), José Moreira e Mário Lagartinho (este hoje dedica-se somente à Olaria). Mas Sabina Santos foi de facto quem se destacou, dando origem a uma série de novos barristas, que actualmente trabalham por conta própria como é o caso das Irmãs Flores e de Fátima Estroia. Maria Luísa, outra barrista ainda em actividade, aprendeu com sua mãe, Liberdade e seu pai Mestre Mariano.

Igualmente a trabalhar na tradição temos os Irmãos Ginja, que aprenderam a conhecer o barro na Olaria Regional, e depois, com o auxílio do Prof. Vermelho estudaram as técnicas e os modelos. Depois, seguindo outra linha de trabalho ao nível dos bonecos de tradição estremocense, temos as barristas Célia Freitas e Isabel Pires.


Mais algumas notas:
Os primeiros bonecos de Estremoz foram inspirados nas figuras do Presépio.
Mais tarde começaram a fazer-se bonecos de barro, baseados nas profissões e actividades das pessoas. Assim, agrupados por áreas temáticas, distinguimos:

- Bonecos de carácter religioso;
- Bonecos de carácter simbólico;
- Bonecos que representam as profissões do Alentejo;
- Brinquedos de assobio e Miniaturas ou “Brincos”.

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