Transmissão de Valores na Escola: que legitimidade?


Sempre que (re)leio o pensamento que afixei no post Inquietações Pedagógicas 4 lembro-me das palavras sábias de uma amiga. Dizia-me ela ainda muito recentemente que quando trata o tema “DEMOCRACIA NA ESCOLA”, começa por perguntar aos seus alunos (nível de ensino Universitário), “QUAL O MELHOR REGIME POLÍTICO…”, ao que os alunos respondem invariavelmente “TUDO É RELATIVO…”.

Essa minha amiga depois de longos e aturados debates nas suas aulas costuma rematar dizendo que “a democracia tem muitas imperfeições, mas que já foi pior e será melhor no futuro, se pessoas como eles se esforçarem para isso”.

Pois é, isto da relativização dos valores, incutido pela própria legislação em vigor, é um crime que estamos a cometer contra a nossa própria civilização. Por esta porta estão a entrar muitos outros males…

O pior é que não podemos perder tempo e esperar pelo Ensino Superior para tentar transmitir valores. E no Ensino Básico quase nos vemos obrigados a prescindir de “coisas menores” como o ensino dos valores (é assim que a tutela os encara).

Numa leitura atenta aos documentos curriculares mais recentes, muito sucintamente, vejamos as ideias repassadas: (1) todos os valores são relativos, construídos, subjectivos, equivalentes; (2) os alunos possuem capacidade de auto-orientação no plano axiológico; (3) a escola não pode impor valores particulares, deve respeitar a liberdade de escolha (Cf. LBSE-Lei nº 49/2005 e DL nº 6/2001).

Estas e outras ideias vão ganhar ainda maior expressão quando sair o Novo Estatuto do Aluno do Ensino Não Superior. Aguardemos!

Os valores que nos orientam até podem não ser perfeitos, na sua concretização, e sabemo-lo muito bem, mas acho também que os conseguiríamos melhorar no futuro se fizéssemos qualquer coisita por isso. A começar pela escola. A escola, a tutela… tem que perceber de uma vez por todas que há VALORES (a democracia, a igualdade, a justiça, a tolerância…) que são um bem Universal. São valores que a humanidade conquistou e que a Declaração Universal dos Direitos do Homem autentica como, preciosos e absolutos. Um tesouro a preservar. Ponto final.

A democracia tem muitas imperfeições, não precisamos apontá-las, mas já foi pior e será também melhor se pessoas como nós (professores, educadores, pais e demais responsáveis pela educação, particularmente, do poder político) nos esforçarmos para isso!

Será que pensamos nas pessoas que morreram chacinadas pelas ditaduras (umas que nos antecederam, outras da actualidade), na luta perseverante desses milhares de seres humanos, uns mais anónimos que outros, pela conquista desses valores, que hoje fazem parte da Declaração Universal dos Direitos do Homem e da Convenção dos Direitos da Criança? Não merecem elas o nosso respeito e admiração? E o que faz ou pode fazer a escola para transmitir valores aos nossos alunos? Que iniciativas se a própria Lei aniquila a transmissão de valores!?

Se a instituição família não passar esses valores e se a instituição escola também o não fizer, então, o futuro da humanidade estará comprometido. Se o não fizermos, corremos o sério risco de voltar em breve novamente à barbárie! Basta olharmos à nossa volta e ver o aumento indiscriminado de casos de indisciplina e violência na escola. Dá que pensar, não é?

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