As Crianças Afluentes Por Daniel Sampaio In Pública (5.2.2012) As crianças afluentes são abundantes em tudo: falam muito, exigem demasiado, manifestam os seus pontos de vista com excessiva exuberância. Há muito deixaram de se preocupar com os outros e permanecem centradas em si mesmas. O seu quotidiano é preenchido por movimentos constantes de birras, protestos ou tentativas de sedução, conforme as circunstâncias do momento. O seu discurso é caudaloso, quer em casa quer na escola, como se não pudessem existir, um só momento, fora do trono que ocupam. Durante alguns minutos por dia, são capazes de fi car em silêncio, curvadas sobre si próprias: nessa altura, pais e professores suspiram de alívio, mas é apenas o descanso do guerreiro. De repente tudo volta ao ponto de partida e a profusão regressa, como se aquelas tréguas só pudessem ser de curta duração. Observemos o seu quotidiano. Imaginemos uma dessas crianças: rapaz, onze anos, 6.º ano de escolaridade, um irmão mais novo. Quando é ...